Tecnologia, adaptação e liderança: navegando na era da inovação

Quase sempre, as grandes ideias não surgem de uma única pessoa ou função isolada, mas sim da interseção de funções ou pessoas que nunca se conheceram anteriormente. 

O autor dessa frase é Clayton Christensen, professor da Harvard Business School, especializado em inovação disruptiva e autor do livro “O Dilema da Inovação“. Antes da pandemia, já se dizia que o mundo era VUCA: Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo, na tradução para português. 

Já vivíamos em um ambiente dinâmico e hiperconectado, onde a tecnologia liderava. Com o advento da COVID-19, o mundo foi atingido em uma escala global como um meteoro, acelerando ainda mais a sensação de incerteza e imprevisibilidade. 

Como disse Charles Darwin há mais de um século, não são os mais fortes ou os mais inteligentes que sobrevivem, mas sim os que melhor se adaptam. O que significa se adaptar senão se reinventar e inovar eventualmente? 

Eixos para a inovação na atualidade 

Desaprender hábitos, rotinas e ideias, além de desenvolver e aplicar novas competências técnicas e tecnológicas, são catalisadores da inovação e da transformação. É necessário rever crenças e modelos mentais sobre o que é inovar, liderar e gerenciar nesta era digital, fazendo uso da tecnologia como nossa aliada. 

Frans Johansson, autor do livro “O Efeito Medici” e especialista e consultor em projetos de inovação, aponta alguns eixos específicos para inovar, liderar e gerenciar nesta era digital. 

O primeiro é passar da exploração para a inovação, buscando oportunidades para questionar as premissas e as regras do jogo. Manter as coisas sob controle, simples e previsíveis, valorizar a experiência e o planejamento eram lemas do século passado. Ter 10.000 horas de prática e ser um especialista em algum tema não é mais garantia de sucesso. 

A maioria dos grandes negócios atuais, como o Uber, Netflix ou Airbnb, não surgiram de uma longa experiência ou de longos anos no mercado, mas sim de um olhar diferente, questionando as premissas de mercado e acolhendo as dores dos clientes para competir e até ultrapassar o que já existia. Surgiram de um olhar de cenários futuros e tendências, utilizando a tecnologia como plataforma. 

O segundo eixo é buscar inspiração, ideias de campos, culturas e tempos diferentes. Buscar melhoria contínua e boas práticas de mercado promove um crescimento sustentável, mas ficar tentando inovar exclusivamente de forma incremental, utilizando apenas o conhecimento dentro do mesmo mercado, empresa ou grupo de pessoas, resultará em diferentes versões das mesmas soluções. 

Em um mundo em mudança acelerada, com variáveis externas que não controlamos, mas que afetam nossos resultados, precisamos interceptar expertises de outras áreas, culturas ou tempos aparentemente sem conexão. Juntando essas diferentes perspectivas, valorizando e promovendo a diversidade, experimentos se combinam para criar modelos de negócios e soluções diferentes. 

É necessário também trazer o futuro para a mesa de conversa, o que ainda não existe, mas é imaginado e possível. Pensar sobre o futuro como um futurista, educando a si mesmo e sua equipe sobre planejamento e foresight de futuros. 

Em terceiro lugar, é necessário fazer mais apostas e testar mais ideias no mundo de hoje, altamente complexo e conectado. Raramente um problema ou desafio de inovação tem apenas uma única forma de resolução ou se descobre prontamente. É necessário não só analisar e correlacionar diversas ideias, mas também testar diferentes possibilidades, aceitando a incerteza e o insucesso de algumas das tentativas. 

Em quarto lugar, é importante repensar o valor da experiência, do conhecimento técnico e da diversidade ao construir sua equipe. Primeiro, entender o time como um todo e depois expandir, trazendo conscientemente diversidade de informação, expertise, experiência, estilo de comunicação e pensamento, entre outros atributos.

O desafio para a liderança é duplo: primeiro, contratar pessoas diferentes e depois conseguir uma boa inclusão na equipe, que não abafe ou tente normalizar as diferenças, mas sim que respeite e valorize a diversidade, não apenas por ser moralmente correto, mas também porque é o que trará sucesso na implementação de uma cultura de inovação. 

Criando um ambiente propício à inovação 

Apesar de ser um desejo e uma necessidade das organizações, sabemos que é mais fácil falar do que fazer. Sabemos que a inovação não acontece em qualquer tipo de ambiente. Então, como promover a criatividade e agir para que a inovação aconteça? 

Fatores como a tolerância ao erro, o conforto com a incerteza e a ambiguidade, a abertura para a experimentação para poder aprender, a segurança psicológica para poder falar, a colaboração e as estruturas pouco hierarquizadas contribuem para que a criatividade floresça e faça parte do dia a dia. 

Cabe aos líderes da organização modelar e incentivar este ambiente de forma intencional e consciente, criando um ambiente propício à criatividade e promovendo comportamentos adequados. Isso não é fácil e pode representar quebrar o status quo em organizações mais tradicionais, mas manter essa cultura de inovação é ainda mais difícil, mesmo em startups. 

A dura verdade sobre a inovação, de acordo com Gary P. Pisano, professor também na Harvard Business School, é que a inovação exige gestão e disciplina, criando um paradoxo que, se não for cuidadosamente gerenciado, qualquer tentativa de criar e sustentar uma cultura inovativa irá falhar. Os cinco fatores de ambientes de inovação citados anteriormente, isoladamente, não garantem sucesso. É preciso integrar e equilibrar polaridades. 

O primeiro fator, a tolerância ao erro e o conforto com a incerteza e a ambiguidade, requer ter pessoas extremamente competentes, que estejam confortáveis em explorar ideias arriscadas e até falhar, mas não pode tolerar competências técnicas medíocres, maus hábitos de trabalho ou gestão, ou falta de responsabilidade. 

O segundo fator, a abertura para a experimentação para aprender, é importante e requer disciplina e método no processo experimental, incluindo critérios para avançar ou parar com alguma ideia. 

O terceiro fator, a segurança psicológica para poder falar, compartilhar suas ideias e opiniões, é fundamental para o processo criativo. Isso requer também a abertura para a franqueza direta e o espírito crítico por parte dos outros, mantendo o respeito. 

O quarto fator, a colaboração, é a base da integração de diversos conhecimentos para a geração de ideias e sua análise crítica. Não pode faltar a responsabilização de cada um pelas suas decisões, especialmente por parte da líder de projetos. 

O quinto e último são as estruturas pouco hierarquizadas, onde as pessoas têm maior liberdade e autonomia para atuar e tomar decisões. Isso tipicamente permite reagir mais rapidamente a desafios e gerar mais ideias. Por outro lado, esse fator exige uma liderança forte, próxima das bases, que transmita claramente prioridades estratégicas e direção, e que simultaneamente seja competente e domine questões mais operacionais. 

No mundo atual, onde a tecnologia e a complexidade conduzem as mudanças, o sucesso virá da nossa capacidade como líderes de negócio e equipes de inovar, equilibrando as polaridades e promovendo a cultura de inovação em sua organização. 

Aproveite que está lendo sobre como inovar na era digital e saiba mais como criar um mindset ágil na sua empresa para te levar a outro patamar!

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Susana Azevedo é fundadora da ns2a-Desenvolvimento Humano e mais recentemente da Quantum Development, empresas de consultoria em coaching, formação e desenvolvimento de liderança e gestão, trabalhando para executivos e equipes de grandes e médias organizações, principalmente na América Latina, América do Norte e Europa. Tem experiência em coaching, mentoring e facilitação, presencial ou virtualmente, bem como na concepção de programas para mudanças organizacionais e de reestruturação, bem como em ambientes multiculturais e internacionais complexos.

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