Em um mundo corporativo cada vez mais complexo e dinâmico, a busca por abordagens de liderança autênticas e centradas na autogestão tornou-se uma prioridade inegável.
Nesta entrevista exclusiva, Vivian de Albuquerque, mentora FRST e referência em liderança e intraempreendedorismo, traz insights poderosos e transformadores para essa discussão crucial.
Conduzida por Renata Soares e Lívia Torquetti, a conversa mergulha fundo na essência da autogestão e sua relevância no contexto contemporâneo.
A entrevista também explora a necessidade de aprendizagem contínua e autodeterminada, destacando a heutagogia como uma abordagem que promove a autonomia e o protagonismo na busca pelo conhecimento.
Confira a entrevista completa abaixo. E não se esqueça de conferir nosso podcast oficial no Spotify para mais insights inspiradores.
Renata Soares
Iniciativa, organização e responsabilidade são elementos essenciais para uma boa autogestão. A autogestão pode levar uma pessoa a ser bem reconhecida, fazer boas entregas dentro dos prazos estabelecidos e ser vista como alguém que assume responsabilidades além das expectativas.
Um grande vilão da autogestão pode ser a procrastinação, que muitas vezes está mais relacionada com a gestão das emoções e menos com a gestão do tempo, numa possível estratégia de fuga. É o que explica Tim Pychyl no livro Solving the Procastination Puzzle.
Pessoas que praticam autogestão conhecem bem seus limites e talentos, são autodirigidas e sabem direcionar a energia necessária para o que realmente importa, considerando o contexto em que vivem. Eu, Renata Soares e a Lívia Torquetti, vamos falar com a Vivian de Albuquerque, mentora FRST, sobre a autogestão pessoal.
Oi, Vivian, oi, Lívia, tudo bom?
Vivian de Albuquerque
Olá meninas, feliz em estar aqui com vocês para falar sobre um tema tão importante. Desde já eu agradeço esse super convite.
Lívia Torquetti
Olá Vivian, seja muito bem-vinda ao nosso podcast. Olá Renata, espero que esteja tudo bem com você. Vivian, vou trazer aqui minha primeira curiosidade em relação ao tema. Eu sei que existem algumas ferramentas que podem ajudar na melhor gestão do tempo. Mas como a gente pode treinar o cérebro? Ou como a gente pode gerenciar melhor as emoções que estão envolvidas na autogestão? Como tornar a autogestão um hábito?
Vivian de Albuquerque
Olha, é uma pergunta complexa, né? Realmente, é cada vez maior o número de ferramentas que surgem para a gestão do tempo.
Particularmente, eu gosto muito de um método simples, que é a técnica do pomodoro, que consiste em dividir melhor o tempo entre as atividades para ajudar a manter o foco.
Tem muita coisa na internet para quem tiver interesse em pesquisar como ela funciona, mas o que vale destacar é que de nada adianta uma boa ferramenta sem a real vontade de mudar um hábito.
Eu gosto muito da frase de Aristóteles que diz: somos o que fazemos repetidamente e a excelência, portanto, é um hábito e não um incidente.
Quando nós vamos mudar um hábito, no início é bem complicado, pois tendemos sempre a voltar para nossa zona de conforto.
Isso é explicado pela neurociência. O nosso cérebro tenta sempre economizar energia e é mais fácil fazer algo do jeito que já sabemos fazer do que tentar fazer algo novo. Então, uma forma interessante de mudar isso, Lívia, vem sendo estudada pelas ciências comportamentais e aborda a questão da autogestão.
Uma pessoa autogestionável tem inteligência emocional, autonomia e organização, ou seja, entende que é importante conhecer a si mesma e que isso é um processo constante devido às mudanças e experiências vividas.
Ela conhece os seus limites e também potencializa seus pontos positivos e sempre busca diminuir a dependência dos pontos negativos.
Eu comecei a ler um livro muito legal sobre isso essa semana, o livro “Como ter um dia ideal”, da Caroline Webb. Já nas primeiras páginas ela traz uma questão importante que é o estabelecimento de prioridades.
Segundo ela, estabelecer o objetivo correto para o nosso dia, ou mesmo em um determinado momento desse dia, não apenas melhora o nosso desempenho, como faz com que nos sintamos melhores.
Quando estabelecemos o que queremos para o nosso dia, e focamos nisso, não nos distraímos à toa e conseguimos dar conta do que é mais importante.
O dia termina, e aquela sensação de que trabalhamos muito e não fizemos nada, desaparece. No livro, Caroline comenta sobre a técnica dos 3As, que me chamou bastante atenção e que eu tenho trabalhado com alguns empresários que eu tenho atendido em mentorias.
Esses 3As são, Aspiração, Atitude e Atenção.
Primeiro, em Aspiração, você pensa em cada uma das atividades mais importantes do dia, que pessoas você vai encontrar e também que tarefas você vai realizar. E daí, você pensa no que realmente importa para que essas atividades sejam bem-sucedidas.
Em Atitude, você reflete sobre essas perguntas e identifica preocupações que mais influenciam em seus pensamentos e no seu humor, decidindo o que você vai deixar de lado para não se autoboicotar. Por exemplo, tem aquela pessoa que nunca te escuta mesmo, então por que você vai lá na reunião para falar com ela se ela nem te escuta? Ou seja, você não vai armado na defensiva, mas sim pronto para a ação.
Em Atenção você decide no que irá concentrar sua atenção verdadeiramente, o que você vai buscar naquele momento. Com isso, você se prepara para o dia ou o momento melhorando seu foco, seu sentido de prontidão e sua performance em relação à produtividade.
Quando você começa a fazer isso de forma intencional e recorrente, esse novo hábito vai se instalando e daqui a pouco se torna automático e muito mais fácil. Em resumo, estamos falando em estar atentos às nossas emoções e perceber quando alguma situação nos tira da nossa zona de conforto, seja porque a gente considera um risco ou algo difícil de fazer.
É importante lembrarmos que o cérebro sempre procura prazer e recompensas em detrimento ao esforço, e que regular as emoções e planejar como agir pode fazer total diferença.
Renata Soares
Muito bom, Vivian. Eu entendo que é um grande desafio para algumas pessoas serem mais organizadas, responsáveis e proativas. No início dessa entrevista, a gente comentou sobre os 3 elementos essenciais para uma boa autogestão: iniciativa, organização e responsabilidade.
Mas como eles podem ser traduzidos em ações práticas? Você teria alguns possíveis caminhos para compartilhar?
Vivian de Albuquerque
São vários caminhos mesmo. Mas, Renata, como eu comentei antes, ninguém muda um hábito incorporado de uma hora para a outra.
O primeiro passo é querer mudar. Eu comento sempre que a mudança de comportamento é uma porta que se abre dentro para fora. São vários caminhos para isso.
Mas um dos primeiros passos é definir bem seus objetivos, aquilo que você quer como resultado de suas ações e não aquilo que você consegue, o que você realmente quer.
Com isso, você saberá exatamente o que precisa fazer para atingi-lo, planejando melhor o que deve ou não fazer. Gosto muito de trabalhar com 3 perguntas, usadas normalmente em negociação, mas eu acho que dá para trazer tranquilamente para cá.
A primeira pergunta é: o que eu quero, qual o resultado? A segunda: o que eu posso? Isso me permite avaliar possibilidades e alternativas nesse caminho planejado. E, terceira: o que eu devo? Serve para definir bem do que posso ou não abrir mão dentro do meu planejamento para conseguir atingir meu objetivo.
É importante dizer que, para que a coisa realmente aconteça e a pessoa não escorregue na tentação da procrastinação, um hábito eficiente é escrever o que foi planejado.
Uma pesquisa da Harvard Business School diz que quando escrevemos nosso planejamento, aumentamos em 60% as chances de que aquilo que escrevemos venha realmente a sair do papel, ou seja, se torne realidade.
Mas eu conheço muitos profissionais que escrevem e depois não olham mais para o que escreveram. Por isso, também é preciso acompanhar, monitorar e revisar o que foi escrito, fazendo inclusive alterações diante das mudanças que acabam acontecendo e podem impactar no que foi determinado na caminhada em direção ao objetivo.
Um objetivo determinado e com ações bem definidas, buscando resultado, traz organização, responsabilidade e gera iniciativa necessária para fazer acontecer. Mas isso também é algo que precisamos fazer continuamente, buscando sempre aprender a como fazer melhor ou mesmo de uma forma diferente e mais efetiva. Organização e planejamento sem iniciativa não funcionam.
Lívia Torquetti
Vivian, são vários pontos interessantes, eu já anotei alguns aqui para poder pensar sobre.
Ficou marcado para mim a questão de aprender sempre. Organizar o nosso tempo também no sentido de organizar o nosso aprendizado. A gente sabe que é importante aprender coisas novas todos os dias.
Eu queria te perguntar: como você acha ou como você faz para se tornar mais ativa na aprendizagem contínua? Quais são as dicas que você usa para conseguir organizar o seu dia a dia entre tantas atividades que você tem e o aprendizado contínuo, o famoso lifelong learning.
Vivian de Albuquerque
Nossa Lívia, e como a gente faz coisa, né? O tempo todo e tudo ao mesmo tempo agora. Antes de compartilhar o que que eu faço ou até o que eu tenho pesquisado, estudado e utilizado nas mentorias e consultorias, quero falar para vocês um termo que tem me chamado muita atenção ultimamente, que é a heutagogia.
Vou explicar daqui a pouco o que é, mas o que eu quero dizer é o seguinte: mesclando heutagogia com lifelong learning, o resultado que aparece é bem diferente daquele que acontece quando a gente resolve aprender apenas por aprender, sem uma real utilização do conhecimento.
Eu conheço muita gente que faz vários cursos, que está sempre buscando novos conhecimentos, mas não usa para nada, ou seja, fica com aquela informação toda e não transforma em conhecimento.
E o que é heutagogia? É o estudo da aprendizagem autodeterminada, um conceito criado pelos teóricos Stewart Hase e Chris Kenyon em 2000. Ele sai daquela coisa da aprendizagem centrada em um professor e na necessidade apenas de compartilhar conhecimentos, para um futuro no qual saber aprender será uma habilidade fundamental em vista desse mundo VUCA ou BANI que nós vivemos agora.
E por que que eu trago isso? Porque nós podemos e devemos aprender sempre, e isso pode ocorrer com a leitura de livros, com conversas com pessoas diferentes, com situações, como enfatiza o lifelong learning, mas também em salas de aula e mesmo treinamento em plataformas como a da própria FRST, que enfatiza justamente a questão da heutagogia.
O aluno decide, por exemplo, qual trilha ele irá seguir com autodisciplina e auto-organização. O profissional atual concorre com a inteligência artificial e o item que mais faz diferença hoje é a criatividade.
Nós só somos criativos quando aprendemos e estamos abertos a coisas novas, novos olhares. Por isso, hoje o aprendizado tem buscado cada vez mais formas interativas entre alunos, ferramentas e professores. As competências da heutagogia são autonomia, protagonismo e a capacidade de tomar decisões, ou seja, totalmente aderentes ao lifelong learning.
Eu aprendo sempre porque quero ter cada vez mais autonomia, quero ser protagonista da minha própria carreira e vida e preciso cada vez mais saber tomar decisões diante de problemas complexos.
E o que podemos fazer para buscar esse protagonismo na aprendizagem, que foi sua pergunta, não é? Uma das primeiras dicas é experimentar coisas novas regularmente. Quando ampliamos nossa perspectiva, começamos a perceber que ainda há muito mais a aprender. Isso serve como uma espécie de estímulo para querer mais, fazer novos cursos, iniciar novos hobbys ou mesmo buscar novos mentores.
Fazer perguntas é outra coisa bacana. São as perguntas que movem o mundo e não as respostas. Quando perguntamos, ouvimos novos pontos de vista e aprendemos como ver as coisas de uma outra forma. Também é interessante estabelecer metas de coisas a aprender. Fazer, por exemplo, uma lista de novos aprendizados para o ano.
Pessoalmente, eu elejo sempre um bom curso para fazer todos os anos e me programo para isso. Vou cancelar outros cursos, vou cancelar outros compromissos, porque o foco vai estar na minha aprendizagem.
Mas aí você pode dizer, “puxa, a agenda está complicada, está difícil de sair da empresa para um curso”. Qual minha sugestão? Leia. Para mim, os livros trazem muitas informações para serem aplicadas no dia a dia e eu acredito que reservar pelo menos 30 minutos por dia para aprender algo novo deve ser algo que precisa ser intensificado.
Renata Soares
Muito bacana, a conversa está maravilhosa, mas a gente já está chegando ao fim. E eu queria trazer alguns pontos que marcaram essa conversa.
Ao buscar uma boa autogestão, primeiramente é necessário se autoconhecer, gerir bem emoções, ter metas e objetivos claros, definindo o foco, prioridades e esforços necessários para determinadas tarefas em contextos diversos.
Pessoas que praticam autogestão têm como características marcantes a iniciativa, organização e a responsabilidade, incluindo, é claro, a aprendizagem intencional por toda a vida.
Vivian, para concluir, você teria alguma indicação ou sugestão de conteúdo para quem quiser saber mais sobre os temas que a gente falou?
Vivian de Albuquerque
Bem Renata, são tantas dicas bacanas que é difícil escolher as melhores, né? Com certeza os podcasts são uma super opção, né? Você vai ouvindo no carro, vai ouvindo no seu tempo.
Mas eu também aprendi e pratico muito a seguir pessoas que eu admiro, seja no LinkedIn, em outras publicações, então estou sempre lendo os artigos dessas pessoas na área de liderança e planejamento, que é uma área que eu gosto muito.
Vou lá seguindo, lendo, consumindo esses conteúdos e filtrando informações. Eu amo livros, tenho muitos e gosto de anotar, escrever neles em post-its, que o tempo todo eu estou relendo.
E alguns que eu recomendaria aqui, baseados no que conversamos, são “O poder do hábito” do Charles Duhigg, para quem está com dificuldade em adotar hábitos mais saudáveis e produtivos.
O livro “Como ter um dia ideal”, da Caroline Webb. Como eu posso transformar o meu dia a dia no trabalho e deixar ele perfeito mesmo diante das adversidades ou daquelas ameaças que nós falamos durante a nossa conversa.
Tem outro livro mais curioso, que é “O cérebro que não sabia de nada”, do Dean Burnett, que fala sobre as escolhas que fazemos e que podem ajudar na priorização das nossas ações, justamente mostrando como funciona o nosso cérebro e como ele escolhe. O que fazer ou não, o que priorizar ou não. Então acho que podem ser aí algumas dicas para começar a mudar hábitos e trazer uma transformação aí na performance.
Lívia Torquetti
Muito bom, Vivian, muito bom te ouvir. Obrigada pelas suas contribuições. Eu de fato anotei vários pontos aqui interessantes para poder pesquisar e para poder me organizar também. Obrigada Renata, pela troca. Sempre bom estar com você.
Renata Soares
Eu que agradeço, Lívia. E a gente realmente espera que essa conversa tenha gerado boas reflexões e ideias para colocar em prática. E eu deixo aqui a pergunta, o que você vai fazer de diferente a partir de agora?
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Vivian de Albuquerque é jornalista por formação, marketeira por especialização e treinadora e facilitadora por paixão. Tem se dedicado cada vez mais à formação de pessoas cujo desejo é fazer a diferença por onde passam. Atua como facilitadora no Seminário Empretec (ONU) e possui certificação como Master Coach Ontológico.